CAVACO NUNCA MUDOU PARA MAL DE PORTUGAL!
A tempo apaga partes da memória histórica e muitos esqueceram um certo período da triste da governação Cavaquista. Assim, mesmo correndo o risco de estar datado no tempo decidi republicar um texto sob o titulo "O PAÍS DAS MARAVILHAS" saído no "Público" de 2 de Outubro de 1991.
È sem duvida um dos principais responsáveis pela situação difícil que Portugal atravessa.
" O PAIS DAS MARAVILHAS"
Ao ler a entrevista do primeiro-ministro e dirigente do PSD, ao
Público de 13/09/91, fiquei coma a ideia de que o país real não tem partidos, instituições
legislativas e governo, mas apenas um ser superdotado e providente que pensa
por todos e tudo realiza. Na entrevista, Cavaco Silva utiliza pelo menos 60
vezes o pronome pessoal "eu" num estilo de providência autoritária
contrário ao pensamento comportamento democrático.
Afirma com toda a antipedagogia política " Eu fiz obra",
"Eu governei". Esquece os "seus" ministros, o parlamento, o
país real e os fundos comunitários.
A demagogia política e falta de carisma democrático subjacente ao
carisma de Cavaco Silva é levada ao extremo, ao aproveitar os resultados do
futebol juvenil para propagandear a sua política. Diz o sr. Primeiro-ministro:
" Há um novo estado de espírito de Carlos Queiroz. Ele dizia-me que
antigamente, passava fronteira a parecia que estava a perder 3-0. Agora não, a
nossa juventude está com confiança, quer aqui quer lá fora...". É preciso
não se ter pudor para se chegar a este extremo!
As crianças que trabalham em situações desumanas, os jovens que
não conseguem entrar nas universidades ou têm de "obrigar" os país a passar
extremos sacrifícios para frequentarem o ensino privado, os jovens que
não conseguem emprego e não têm possibilidades de comprar habitação já podem
ter confiança, pois vão vivendo com os resultados conjunturais de um trabalho profícuo
no futebol juvenil! Cavaco Silva não deve viver em Portugal mas em algum
"país das maravilhas" ainda por escrever (...).
É um estilo " eu prometo, eu digo, eu faço" e todos têm
de acreditar e aceitar, pois não há direito a contestações!
É a ditadura do absolutismo partidário que a maioria absoluta
possibilitou, através da criação perigosa do culto de personalidade, na qual se
governamentaliza os órgãos da comunicação social e em que o clientelismo
e o poder "laranja" se faz sentir a todos os níveis do aparelho
do Estado (...). Os programas, as propostas e as ideias não fazem parte do
vocabulário e comportamento político de Cavaco Silva. A política é ele
próprio!...
Mas é indispensável esclarecer:
- o crescimento económico não correspondeu a desenvolvimento; aumentaram
as desigualdades e cresceu o desequilíbrio da distribuição do rendimento
nacional;
- os salários em atraso não acabaram e basta ir ao Vale do Ave e
falar com os trabalhadores da Coelima, e constatar as dificuldades por que
estão a passar os da Tabopan, para que o nariz do Cavaco Silva
"cresça" como do Pinóquio! E muitas empresas acabaram com os salários
em atraso, porque foram encerradas, lançando os trabalhadores no desemprego;
- as pensões aumentaram, mas são insuficientes e não chegam para
fazer face ao actual custo de vida;
- o emprego " aumentou" com a precariedade, a proliferação do
trabalho infantil e a pobreza encapotada.
A pessoalização do poder criar dificuldades à solidificação da
democracia e ao exercício pleno da liberdade consagrada constitucionalmente.
Urge travar o eleitoralismo e a governamentalização do aparelho de Estado,
acabando-se em 06 de Outubro com a maioria absoluta do poder
"laranja" (...)
António Neto
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