A JUVENTUDE!
(Continuação da transcrição de textos, intervenções e outra documentação da minha autoria efectuados nos últimos anos. Estas notas reportam-se a uma intervenção minha de 1985. Datada no tempo vale pela reflexão comparativa com a realidade de hoje, que suscita!)
A juventude confronta-se com muitos problemas sendo de relevar a precariedade no emprego, a proliferação dos contratos a prazo(1), o trabalho clandestino, o trabalho infantil, a discriminação salarial e profissional, a repressão e o desemprego.
No distrito do Porto há mais 45.000 jovens desempregados, mais de 50.000 contratados a prazo(1), 25.000 à procura do primeiro emprego e milhares e milhares de jovens - numero não calculável - a trabalharem clandestinamente e submetidos à mais atroz exploração.
(...) Há jovens trabalhadores que não conseguem entrar na Universidade devido ao nºs clausus e muitos quando acabam os estudos universitários o que lhes resta é o desemprego.
(...) E, como escreveu o poeta "A juventude é canto, é luta, é sonho que transforma o presente em realidade diferente".
(...) A para do agravamento da situação da juventude, o governo de Cavaco Silva lançou uma campanha de mistificação e demagogia em relação à juventude servindo-se da comunicação social que controla.
Entre as acções demagógicas que e a realidade há uma situação abismal à qual respondo, recitando um poeta português quando se referia à juventude:
Dei a volta ao mundo, semeando esperança
Dei volta ao mundo, semeando paz
O mundo crivou-se de golpes de lança
Beijou-se a mentira, mordeu-se a vingança
Cuspiu-se risadas de fel Cavaco
O governo promoveu uma campanha de colocação de empregos por seis meses de jovens desempregados que apenas servirá para encobrir o aumento efectivo do desemprego. Este projecto apenas abrangerá cerca de 15.000 dos 300000 desempregados à escala nacional. (...) os jovens colocados apenas auferirão 75% do salário mínimo nacional prestando as mesmas tarefas e funções de outros trabalhadores.
O Cavaco e a sua "banda" lançou uma forte ofensiva sobre as novas regras do credito à habitação, num contexto difícil, em que os jovens são atingidos pelo trabalho precário, contratos a prazo(1) e desemprego que gera instabilidade e inviabiliza o recurso ao credito, para além, dos preços de venda de habitação não lhes permitirem sequer pensar na sua compra.
A "Cavacada" fomenta a ideia que a formação profissional é um remédio para todos os males, quando em muitos casos tem sido apenas um meio para "empatar" os jovens mais os tempos com falsas promessas de emprego e saídas profissionais.
Embora a formação profissional seja importante para a sinfonia desafinada de Cavaco apenas serve como panaceia para enganar os jovens.
O Cavaco procura fazer crer que o programa OTL (Ocupação dos tempos livres) é um bom incentivo à ocupação momentânea dos jovens tendo aberto, pela primeira vez, a possibilidade de inscrição dos jovens desempregados, como se, a ocupação dos tempos livres possa ser equiparada a um emprego.
O "governozinho" de mister Cavaco para além das medidas referidas adoptou uma que mais não é do que uma autentica benesse ao patronato concedendo às empresas que admitam jovens entre os 18 e 25 anos a dispensa de pagamento da contribuição para a Segurança Social e fundo de desemprego.
O patronato com esta "prenda" do seu amigo Cavaco liberto para admitir jovens que desempenham as mesmas funções dos seus colegas de trabalho aumentando os seus lucros e lesando os fundos da segurança social.
O patronato utiliza esta medida contra os trabalhadores e os próprios jovens(...).
O tempo demonstrará a demagogia e ineficácia destas medidas do Cavaco e sua orquestra, mas não podemos descurar os métodos e processos refinados de manipulação e domínio da juventude.
A denuncia destas medidas do governo pressupões uma ligação efectiva aos jovens e uma acção firme e ideológica contra o governo.
A desmontagem da engrenagem cavaquista exige um conhecimento rigoroso dos problemas e determina um desmascaramento com base nas questões concretas.
Há uma clara tentativa do governo de Cavaco através do ensino ministrado, da comunicação social condicionar a juventude...
(1)contrato a termo certo ou incerto)
Porto, 1985
António Neto
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