NOTA DO DIA!

“ O Ministério da Saúde é muito autocrático na sua relação com os parceiros sociais”Manuel Lemos_ Público_28.03.2021

Sem por em causa o papel social das Misericórdias, que deveria caber ao Estado, estas declarações extraídas da entrevista do Presidente da União das Misericórdias Portuguesas Manuel Lemos suscita-me as seguintes breves considerações:

- Estas Instituições são um lobby fortíssimo na nossa sociedade que se manteve intocável após a revolução de Abril;

- Tem um conjunto de apoios, benefícios e isenções do Estado para funções sociais que deveriam ser exercidas pelo sector público;

- Mantém uma desmesurada influência política e até religiosa à qual o poder político é permeável;

- Algumas obtêm lucros avultados e gerem um património incalculável e desproporcional no nosso país

- São fortemente financiadas pelo Estado numa actividade que deveria ser objecto de uma fiscalização mais apertada por parte da Segurança Social, ACT e outras entidades;

- Os trabalhadores destas instituições são na generalidade mal pagos, não tem formação adequada nem continua, desempenham, por vezes, funções incompatíveis com a sua categoria profissional (conteúdo funcional) e cumprem horários de trabalho desregulados e com cargas semanais inaceitáveis. Há, inclusive, convenções colectivas de trabalho que estipulam a possibilidade da prestação de 12 horas de trabalho semanal e o descanso ao domingo apenas de 7 em 7 semanas com todas as consequências que daí decorrem;

- São atribuídas funções e tarefas a trabalhadores sem a devida qualificação pondo em risco a qualidade e a saúde dos mesmos e dos utentes;

- As valências nem sempre cumprem com os rácios mínimos de trabalhadores por profissão e as condições das instalações e outros equipamentos nem sempre são as mais adequadas. Em algumas não há o devido acompanhamento e tratamento médico e de enfermagem, com particular incidência, nos idosos;.

Esta entrevista é mais uma forma de pressão para quem não se olha ao espelho e não reflecte sobre as condições como são geridas os lares e outras valências que lhe estão adstritas. Não se coíbe de afirmações que apenas visam perpetuar o poder social excessivo que têm e continuar a condicionar e se possível mandar no poder politico.
Maia,28.03.2021
António Neto

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