Do meu baú...

Das centenas de textos, artigos e intervenções, que escrevi, ao longo da minha vida política, sindical e social, que estou a compilar, deparei-me com uma crónica de opinião no Jornal “O Diário” de 05.09.1988 com o título “País Real”.
O Primeiro-Ministro de má memória era Cavaco Silva. Será que estarei enganado, mas não haverá similitudes com a realidade de hoje devido às políticas de direita de Montenegro e companhia?
Fragmentos do artigo que escrevi passam mais de 36 anos.
“Descia, descontraído, uma das ruas da baixa portuense, quando me confrontei com a triste imagem de uma mulher, mal vestida, com semblante triste, sentada no chão do passeio, tendo ao colo uma criança suja, esfomeada e incapaz de perceber a realidade do nosso país e os principais responsáveis pela sua situação. Tal cenário não poderá ser destruído pelas moedas que iam caindo no regaço daquela pobre criatura.
Ao ver tão triste espetáculo, que é uma das muitas cópias tristes existentes por este país fora, dei comigo a pensar…
O meu pensamento percorreu os vários comportamentos deste Governo! Oiço o sr. Primeiro-Ministro e fico estupefacto. Quando desvio os meus olhares do ecrã da TV e desço ao país real fico confundido e preocupado com hipótese de estar com alucinações ou de que o sr. Primeiro- Ministro está a falar de um país com o mesmo nome, mas de outro planeta.
Diz incessantemente Cavaco Silva “ que o país está em boa situação...”, “que os portugueses vivem melhor e sentem-se mais seguros quanto ao futuro..”, …que os jovens ganharam confiança no futuro a acreditam no Governo”! Referi três exemplos muitos utilizados pelo Primeiro-Ministro, mas, quando percorria a referida artéria da cidade do Porto, fiquei mais descansado e com a certeza de que não sofro de alucinações!
A mulher e a criança que vi são humanos e portugueses como eu e espelham a realidade de um país onde o Governo quer destruir a Reforma Agrária, através da aplicação do Pacote Agrícola, lançando o desemprego e a fome no Alentejo; quer impor a aplicação do conhecido “Pacote Laboral” para que o patronato possa legalmente “domesticar” os trabalhadores com o aumento da repressão, exploração e desemprego, lançando o clima do medo como política de dominação. Aplica na saúde o lema “ quem quer saúde paga-a”; e quer os jovens “entretidos” com as suas iniciativas aparatosas panfletariamente caras, luxuosas e sem resultados palpáveis. Enfim, dei comigo e divagar…
E, enquanto pensava, vieram ao meu subconsciente os reflexos da prática da nossa televisão (…) pouca atenta aos problemas e lutas dos trabalhadores portugueses. Uma greve de 300 de trabalhadores na Polónia tem mais cobertura (torna-se noticia de impacto de 1ª página na televisão e imprensa escrita), do que a luta de milhares de trabalhadores portugueses!
Quantos e que debates, noticias e reportagens foram feitas junto dos trabalhadores com salários em atraso, junto das empresas onde prolifera o trabalho clandestino e infantil?
É preciso olhar o País real e adoptar uma política capaz de efectivamente dar felicidade e pão àquela criança para que o seu futuro seja diferente, A esperança e a luta não morrem. Parar é morrer, mas os trabalhadores não adormecem com as demagogias..."
Maia,01.02.2025

Comentários

Mensagens populares deste blogue