Mais do texto meu baú.
Em 28 de Abril de 1994 fui representar a Juventude a um Colóquio realizado na Escola Filipa de Vilhena sob o lema “ A Juventude no fim do Milénio”. Lembro-me de uma elevada presença e de um colóquio vivo.
Da minha intervenção transcrevo breves fragmentos. Considero, que embora datada no tempo(passaram mais de 30 anos), há matérias actuais e alertas que hoje se tornam evidentes.
(…)
A possibilidade de estar aqui convosco a debater livremente e fraternalmente tão premente tema só é possível devido ao 25 de Abril.
Relembrar este facto não esquecendo o que foi a ditadura fascista é, também, afirmar que a Juventude é o futuro e que lhe cabe a tarefa presente e futura de garantir a liberdade e aprofundar a democracia.
Muitas promessas e esperanças continuam por cumprir e realizar, mas muito foi conquistado em resultado de Abril.
A Educação faculta, entre outros, o acesso à cultura e à integração na actividade social criativa e produtiva. A Educação promove a realização pessoal, a produtividade do trabalho e o desenvolvimento integrado.
Assim sendo, há que assegurar condições de igualdade de oportunidades de acesso aos vários graus de ensino.
O nível de escolaridade da população activa continua significativamente baixo fruto de 48 anos de obscurantismo!
Relevo com preocupação que a maior parte dos alunos do ensino básico e secundário não chega ao ensino superior. De todo o modo aumentou, significativamente, o número de alunos matriculados no ensino superior e verifica-se um aumento de alunos no 2º e 3º ciclo e secundário, embora em percentagem menor.
Os estabelecimentos do ensino secundário e superior devem constituir centros de aprendizagem, criação, transmissão e difusão de cultura, ciência e tecnologia. Devem ser centros permanentes de conhecimento, lugares de formação integral do individuo, que permita encarar o conhecimento como um processo global permanente e libertador capaz de preparar o individuo para a sua inserção e participação na direcção de uma dinâmica social em transformação.
A educação deve constituir claramente uma prioridade do investimento público.
É, hoje, indiscutível que o desenvolvimento do país, em todas as suas vertentes, é proporcional ao nível das habilitações da população. Cada vez mais o conhecimento científico se afirma como força produtiva directa e, neste quadro, o desenvolvimento económico apoia-se, cada vez mais, na intensidade dos conhecimentos.
A Educação é um vector estratégico para a aceleração do desenvolvimento e para a salvaguarda da capacidade de decisão própria do nosso país. Ao Ensino Superior cabe, sem dúvida, um papel especial pelas funções complexas e centrais que desempenha no interior do sistema educativo em relação à formação de quadros. Investigação científica e tecnológica e pelas respostas que pode dar às necessidades económicas, socias e culturais.
Estais a concluir um curso que vos garante uma formação altamente qualificada e vos permite êxitos no ensino superior e na vida laboral.
A vertente educativa é sempre um indicador do rumo e da realidade do país.
Muitos jovens depois de concluídos os estudos são confrontados no mercado do trabalho com horários de trabalho desregulados e sem folgas e trabalhos intensivos que põem causa o direito ao descanso, lazer, cultura, equilibro físico e emocional e à relação familiar. Realidade com que depara muitos jovens que trabalham nos centros comerciais.
A “almofada” da precariedade do vínculo laboral prevalece, preponderantemente, sobre vinculo efectivo contrariando as normas legais e o direito à estabilidade de emprego consagrado na Constituição da República.
Muitos jovens que terminaram o ensino secundário, cursos de formação profissional e o ensino superior só tomam consciência desta dura realidade quando entram no mercado de trabalho.
Os jovens são educados numa perspectiva individualista e de conformação aos interesses do patronato. Esta perspectiva leva à desilusão e desencanto da juventude que poderá potenciar focos de extremismo, racismo e xenofobia que não poderão deixar de merecer de todos os intervenientes educativos e das forças sociais e politicas uma redobrada preocupação e uma atenção apurada.
Os jovens têm ter consciência da realidade com que mais cedo ou mais tarde terão de enfrentar. Os jovens devem exercer os seus direitos, lutar contra a precariedade e pela sua devida dignificação e valorização.
As necessidades do mercado são cada vez mais as de acumulação e centralização de capitais e não as necessidades do país, dos recursos humanos e de uma política que promova o desenvolvimento do país.
Precisamos de um Ensino, nomeadamente, ao nível tecnológico que tenha em atenção as aspirações pessoais de cada um, promova a formação de quadros que correspondam às necessidades de desenvolvimento do país, sendo fundamental a clarificação das prioridades e das principais áreas a desenvolver.
É importante a obtenção e divulgação de dados relativos à inserção no mercado de trabalho dos recém-licenciados, dos que terminam cursos secundários, não prosseguem os estudos
As mudanças e evoluções radicais que a ciência e a técnica operam no mundo actual tornam cada vez mais importante, digo mesmo imprescindível, a qualificação dos trabalhadores, em particular, dos jovens.
Como já afirmei, continuamos a ter um índice baixo de licenciados no mercado de trabalho e falta de formação adequada daqueles que nele já se encontram.
Cabe papel relevante e crucial a todos os graus de ensino, designadamente, ao ensino superior, que é chamado a desempenhar uma função social complexa dado o papel de interligação entre o ensino universitário e o ensino profissional, a produção cientifica-técnica e as actividades económicas.
Actualmente o mercado do trabalho é exigente, cada vez há mais jovens desempenham funções qualificadas e técnicas, mas muito há a percorrer que a estas saídas profissionais, corresponda uma carreira profissional compatível, uma valorização profissional adequada, salários dignos e justos, uma progressão profissional valorização e que corresponda ao grau de conhecimento e preparação dos jovens saídos do ensino.
Obrigado a todos.
No colóquio ainda respondi algumas questões e abordei os seguintes temas:
- Direitos constitucionais, legais, direito ao Trabalho e estabilidade do emprego;
- Autonomia financeira e curriculum de formação profissional e social;
- Conhecer os direitos e deveres;
- Reconversão Profissional;
- Preparação e formação geral;
- Formação contínua e estágio nas empresas;
- Perfis adequados às necessidades das empresas.
Maia,23.02.2025
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