Mais um texto do meu baú! Uma luta que se mantem: - Encerramento do Comércio aos domingos e feriados
Em 20 de Abril de 1996 é publicado, no JN, um artigo da minha autoria com o título “Os horários grandes superfícies”. Publico os pontos mais salientes do artigo
“ A maioria da comunicação social tem dado um grande espaço relativamente à abertura das grandes superfícies ao domingo com o apoio de algumas pretensas associações de consumidores, mas numa óptica meramente liberalista e a favor desses grupos económicos, procurando transmitir uma ideia errada ou pelo menos redutora do que consideram ser os interesses dos consumidores.
A preocupação subjectiva relativamente aos consumidores enquanto trabalhadores que lidam e se relacionam com outros trabalhadores – os trabalhadores dos híper e supermercados – não merece sequer um mínimo de reflexão e análise.
Considero inadequada e até abusiva a posição da DECO que pode gerar dúvidas sobre o seu verdadeiro papel de independência e autonomia na defesa dos consumidores.
Sou consumidor – já fui muitas vezes às compras ao domingo – e considero que as grandes superfícies devem estar encerradas neste dia da semana como acontece na maioria dos países da Comunidade com outro nível de vida e capacidade de consumo.
Procura-se criar o culto do consumismo ao domingo, o culto da criação de tensões que o fluxo de pessoas e bichas gera (massificação alienatória consumista), o culto da indispensabilidade da abertura das grandes superfícies nesse dia.
O domingo deve ser espaço de lazer, convívio e da família que os hipermercados vieram condicionar e até perverter, originando diversos e complexos factores que culminam no stress e tensão permanente (alienação hiperconsumista que transformaram, nomeadamente, esses locais em espaços de passeio e de ocupação do domingo).
Os horários de funcionamento nos dias úteis e ao sábado permitem a qualquer cidadão rentabilizar em absoluto o seu tempo e garante-lhes uma total disponibilidade para as compras nos hipermercados, nesse período, sendo dispensável a sua abertura aos domingos.
O poder de compra dos portugueses é baixo, a precariedade e instabilidade laboral são reais e as condições e tempo de lazer são quase inexistentes.
É preciso que se fale verdade e não se mistifiquem e se manipulem os interesses dos consumidores – cidadãos e trabalhadores – submetendo-os aos interesses mesquinhos, consumistas e economicistas das grandes superfícies.
O lado humano, o respeito pelos trabalhadores, em particular, dos das grandes superfícies, que quase não podem conviver com a família são aspectos com que a DECO se devia preocupar e a comunicação social analisar e retratar.
Quem omite a vida dos consumidores enquanto trabalhadores, não tem o direito moral de falar em nome dos pretensos interesses dos consumidores para “justificar” com base em interesses inconfessáveis a abertura das grandes superfícies ao domingo.
A decisão do Governo peca por defeito e falta de coragem ao não ir até às últimas consequências: encerramento das grandes superfícies ao domingo.
Maia, 06.02.2025
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